20032019
carros mexicano não irá ficar mais barato no Brasil
Entidades dizem que empresas não utilizavam todas as cotas, por isso, imposto não mudará. Fabricantes ainda temem que investimentos migrem para país vizinho.
Brasil e México agora possuem livre comércio para automóveis e autopeças. Isso significa que não há mais cotas de importação e exportação entre os dois países. Mas o que isso muda, na prática, para o consumidor?
“Num primeiro momento, não vai mudar muita coisa, porque o Brasil não estava usando todas as cotas”, disse José Luiz Gandini, presidente da Abeifa, a associação das importadoras de veículos.
“Uma ou outra empresa ficava no limite [das cotas]. Mas, no geral, sobravam muitas cotas”, completa Antonio Megale, presidente da Anfavea, a associação das fabricantes de veículos.
Os presidentes de duas das entidades mais importantes do setor automotivo, Anfavea e Abeifa, também concordam que o fim das cotas não deve tornar o carro mexicano vendido no Brasil mais barato.
O sistema de cotas, em vigor desde 2002, previa que veículos e peças importados dentro de um determinado valor não pagassem impostos de importação, desde que respeitassem uma porcentagem de conteúdo local.
Apenas o excedente seria taxado, o que estava longe de acontecer, segundo as entidades.
Migração de investimentos?
O que poderia ser uma boa notícia para a indústria nacional, acabou se tornando motivo de preocupação para as filiais brasileiras.
"O México é de 30% a 40% mais competitivo do que a gente. Eles vencem em vários fatores, como custo trabalhista, simplificação tributária, logística, custos de insumos", completou.
A Anfavea acredita que se a indústria mexicana é mais eficiente, o Brasil corre o risco de ter o setor enfraquecido no futuro. “O livre comércio pode, daqui algum tempo, fazer com que os investimentos migrem” falou Megale.
Segundo dados do Ministério da Economia, o Brasil já ficou em desvantagem diante do México em 2018, exportando menos do que importando: US$ 2,12 bilhões em compras e US$ 1,4 bilhões em vendas.
A Anfavea vê com bons olhos os acordos de livre comércio, mas acredita que eles devem ser acompanhados de melhorias em setores como tributação e logística, para colocar a indústria nacional em condições reais de brigar por investimentos e ter um maior volume de exportações.
“Somos a favor da liberação, mas isso deve vir de forma paralela à melhoria de competitividade. Isso até agora não aconteceu”, disse.
Para Ricardo Bastos, diretor de assuntos governamentais da Toyota, o livre comércio com o México faz do país da América do Norte um "concorrente" na briga por investimentos e novos produtos. "Acompanhamos os riscos. O acordo é sempre dos dois lados, mas sempre existe a possibilidade de exportar", falou.
Do ponto de vista das importadoras, Gandini também pede uma carga menor de impostos. “Não conseguimos brigar com os nacionais. O Brasil precisa abrir o mercado, mas precisa também reduzir o imposto de importação. Os incentivos acabam com o mercado”, afirmou.
Quem produz em cada país?
Atualmente, a Kia só possui fábrica no México. Audi, BMW, Fiat Chrysler (FCA), Ford, Chevrolet, Honda, Mercedes-Benz, Nissan, Toyota e Volkswagen têm fábricas nos dois países.
Destas, apenas FCA, Ford, Chevrolet, Nissan e Volkswagen importam modelos mexicanos para o Brasil. Veja abaixo os veículos que importados do México:
. Audi Q5
. Dodge Journey
. Fiat Ducato
. Ford Fusion
. Chevrolet Tracker
. Chevrolet Equinox
. Kia Cerato
. Nissan Sentra
. RAM 2500
. Volkswagen Jetta
. Volkswagen Tiguan Allspace
Além destas fabricantes, a japonesa Mazda tem uma fábrica no México, e poderia ser beneficiada com o livre comércio em um possível retorno ao país.
Gandini, no entanto, acha isso pouco provável, ao menos neste momento. “Mesmo sem imposto de importação, o carro ainda ficaria caro para trazer”.
Dificuldade com conteúdo local
Além do fim das cotas, o acordo comercial teve outra mudança, o aumento da exigência de conteúdo regional em carros e peças. O índice aumentou de 35% para 40%, medida que pode dificultar a chegada de alguns componentes.
“Talvez o México tenha alguma dificuldade neste sentido, principalmente para peças”, diz Megale. No caso dos veículos, o presidente da Anfavea acredita que todas as fabricantes cumpram essa exigência. O mesmo vale para os veículos feitos no Brasil e exportados para o país parceiro.
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